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Bolaños

23 janeiro, 2008

É navegando na Internet que a gente acha algumas coisas interessantes, emocionantes até (me permito dizer). Bom, acabei de achar no site da BBC uma entrevista um pouco antiga, mas que achei surpreendente, muito bem realizada e tocante (parabéns aos idealizadores que recebem todos os créditos e felicitações desse mero blogueiro). Vou reproduzir na integra a entrevista, pois achei a mesma EXCELENTE!

Chapolin Colorado “Me achava feio e fui mulherengo, diz criador do Chaves e do Chapolim

O ator e dramaturgo mexicano Roberto Gómez Bolaños, imortalizado pelos personagens Chaves e Chapolim, disse à BBC que se achava feio e mulherengo quando mais jovem e que não esperava que algumas das frases criadas por seus personagens fossem ser tão marcantes até os dias de hoje.

Aos 76 anos, Bolaños está nas memórias de infância de milhares de pessoas que acompanharam as aventuras do Chaves, um menino pobre que se envolve em confusões com moradores da vizinhança – Kiko, Dona Florinda e seu Madruga, entre outros.

Chapolim, um super-herói com antenas e que se veste de vermelho, também tem sua legião de fãs, que nunca esquecem seus bordões: “não contavam com minha astúcia” e “sigam-me os bons”.

Muita gente não sabe, mas Bolaños também é um prolífico roteirista, tendo escrito, dirigido e estrelado seu próprio filme (El Chanfle, de 1978) e também criado textos e músicas para teatro, novelas e musicais.

A BBC recebeu centenas de perguntas, enviadas de toda a América Latina e Estados Unidos, para Bolaños – um rosto conhecido da TV no Brasil, que transmite há anos suas séries.

Por conta do volume de perguntas recebidas, somente algumas puderam ser repassadas para o ator e dramaturgo.

Leia abaixo a entrevista exclusiva de Bolaños à BBC.

Qual seria o pior inimigo do Chapolim Colorado nos dias de hoje?
(Miguel García Medina, Peru)

Boa pergunta. Curiosamente é uma que nunca me fizeram. Acredito que responderia Stalin ou Hitler, mas a pergunta (sobre qual seria hoje em dia) me pegou de surpresa.

De qualquer forma, o Chapolim tinha a característica de defender todo mundo sem se importar com o tipo da pessoa ou com qual fosse o problema.

Em quem você se inspirou para chegar a ser o que hoje representa no mundo da arte?
(Marco Guzmán, Estados Unidos)

Acredito que em muita, mas muita gente. Desde pequeno gostava de ver os atores de comédia de todo o mundo. Stan Laurel, Chaplin e muitos outros. São tantos os autores… “O Gordo e o Magro” foi uma de minhas grandes inspirações. Desde menino, quando ia ao circo, não ficava impressionado com o homem que entrava na jaula do leão. Eu esperava ansiosamente o palhaço.

Alguma vez você imaginou que as frases de seus programas continuariam a ser ditas hoje em dia? Por exemplo, “sigam-me os bons”, “foi sem querer querendo”, “não contavam com a minha astúcia”…
(Alejandra Hernández, Estados Unidos)

Não, não. Nunca imaginei que iriam ser lembradas desta maneira, nem que escutaria as frases repetidas em terrenos tão diferentes como a política.

Já vi que em eleições presidenciais em alguns países candidatos usaram frases do Chapolim como “sigam-me os bons” e “não contavam com a minha astúcia”.

Qual a melhor memória da sua infância?
(Argeu Pereira e Paul, Brasil)

Passei minha infância com minha mãe e meus irmãos e a acho que fui super feliz. Nunca tive uma bicicleta, mas nunca me faltou uma bola de futebol.

Por que a maioria de seus personagens começam com as letras ch? Chaves, Chapolim, Chespirito (apelido de Bolaños nos países de língua espanhola)…
(Javier Plascencia)

Primeiro foi casual. Ganhei o apelido Chespirito de um produtor e diretor de cinema que gostava de meus roteiros e dizia que eu era um Shakespeare miniatura, chiquito (Bolaños tem 1,60m).

Então, me chamavam de “Shakesperito”. Eu “espanholei” o nome para “Chespirito” e depois, por coincidência, criei personagens como o doutor Chapatín.

Para o Chapolim Colorado eu buscava uma palavra regional, e Chapolim vem do Náhuatl, o idioma dos astecas. Depois o Chaves, porque da Espanha vieram os chavalos, os meninos.

E quando me dei conta da coincidência, continuei dando os outros nomes da mesma maneira.

Como você faz para escrever tantas coisas ao mesmo tempo?
(Godofredo Rodríguez Díaz, México)

Sim, é muito complicado escrever tanto. Tenho minha biblioteca cheia de cópias de roteiros. São algo como 2,5 mil roteiros ou algo assim. Agora estou escrevendo muito daquilo que quis escrever e não podia antes, porque tinha que entregar roteiros todas as semanas.
Agora não sou obrigado a entregar algo semanalmente e estou escrevendo então muitos ensaios, uma autobiografia, enfim, editoriais, um bom número de coisas.

Por que você demorou tanto para se casar com a dona Florinda (Florinda Meza García, a atriz que interpretava a personagem na série Chaves) e como você a roubou do professor Girafales?
(José Alberto Orozco, Venezuela)

A verdade é que Florinda e eu estávamos unidos por amor, casados por nossa conta mas sem nada oficial, há muitos anos, algo como 28 anos.

Mas decidimos que seria melhor tornar essa união oficial, seguindo uma fórmula que tem menos valor do que o amor entre um homem e uma mulher.

No início, eu era mulherengo, Na verdade, eu tinha um complexo de menino feio, mas conseguia ter sucesso com as mulheres. Com a Florinda, porém, tenho sido totalmente fiel, porque ela satisfaz todas as minhas necessidades e, quando você se sente completo, não precisa de mais nada.

Mas demorei porque o mais importante era o amor. O papel, o documento, nunca me importou, mas tinha medo de que, se fôssemos aos Estados Unidos e vissem no passaporte que não éramos casados, talvez nem nos deixassem dormir no mesmo quarto.

Hoje em dia, quando você se senta e olha para todos os anos que passaram, você se arrepende de algo?

Me arrependo de muitíssimas coisas, mas já percebi que não é possível voltar atrás no tempo. Se soubesse que ia ser ator, em vez de tocar violão ou piano como toco, sem saber muito bem, teria aprendido melhor, esses e outros instrumentos.

A dança, sapateado, só comecei a aprender a pedido de Florinda, quando já tinha quase 50 anos de idade. Eu teria gostado de aprender muitos outros tipos de dança, tenho facilidade – ou tinha, porque agora, com a idade, não posso mais -, eu gostaria de tê-las estudado e me arrependo de não tê-lo feito.

E há outras coisas piores, mas é melhor não dizer nada porque não cai bem.

A Florinda está me lembrando agora que, quando me perguntam qual foi o meu maior sucesso e o meu maior fracasso, quase todos esperam que eu responda o Chaves e o Chapolim.

Mas o meu maior sucesso foi ter conseguido parar de fumar. E digo isso com toda a sinceridade do mundo. Fumei durante muitíssimos anos, muitos cigarros. (Os cigarros) me deixaram um enfisema pequeno, por sorte, em um pulmão, que não cresceu mais desde que eu parei.

Meu pior erro foi ter começado, porque não comecei como os meninos que caem, digamos que sem consciência, comecei aos 21 anos de idade, quando você já tem consciência.

Se Chaves houvesse existido de verdade, onde ele moraria, qual seria a realidade dele?
(Fabiola, México)

É um pouco difícil responder, porque, por um lado, ele teria que enfrentar mil problemas que existem em todo o mundo, e que agora podem ser maiores no México do que em outros lugares.

Mas eu dei ao Chaves um caráter de otimismo. O Chaves mostrava de alguma maneira que, apesar de não ter amigos, não ter café da manhã, não ter onde dormir e nenhum brinquedo, dava para brincar, se divertir e se emocionar, e isso significa ter ilusões.

Então creio que se Chaves tivesse sido real, teria muitas decepções, mas teria superado todas e seguiria em busca de algo melhor. Teria decepções porque uma das características que dei ao Chaves foi ser um menino bom, e os bons sofrem mais, mas também aproveitam mais do que o resto.

Acredito que, se fosse real, sua trajetória seria mais positiva do que negativa. Não poderia ser totalmente positiva, ele não viria a ser uma grande personalidade, mas poderia ser feliz, que é mais importante do que ser uma personalidade.”

 FONTE: BBCBrasil.com

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